terça-feira, 23 de novembro de 2010

Vai passar, você sabe que vai passar...

Vai passar, você sabe que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está ai, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta uma coisa chamada "impulso vital". Esse impulso às vezes é cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou movimento você se surpreenderá pensando algo como "estou contente outra vez". Ou simplesmente "continuo".
Ninguém sabe como, mas aos poucos fomos aprendendo a continuidade da vida, das pessoas e das coisas. Já não tentamos o suicídio nem cometemos gestos transloucados. Alguns, sim -nós não. Contidamente, continuamos. E substituímos expressões fatais como "não resistirei" por outras mais mansas, como "sei que vai passar". Esse é o nosso jeito de continuar, o mais eficiente e também mais cômodo, porque não implica em decisões, apenas em paciência.
Claro que no começo você não terá sono ou dormirá de mais. Fumará muito, também, e talvez até mesmo se permita tomar uns desses comprimidos para disfarçar a dor. Claro que no começo, pouco depois de acordar, olhando a sua volta a paisagem de todo dia, se sentirá atravessada não sabe se na garganta ou no peito ou na mente -e não importa- essa coisa que você chamará com cuidado, de "uma ausência". E terá momentos em que esses ossos duros se transformarão em uma espécie de coroa de arame farpado sobre sua cabeça, em garras, ratoeiras e tenazes no seu coração. Passará o dia fazendo coisas como tirar a poeira de livros antigos e velhos discos, como se não houvesse nada mais importante pra fazer. E andará divagar pela casa, molhando as plantas e abrindo janelas para que sopre esse vento que deve levar embora lembranças e cansaço.