quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Amor à Segunda Vista

E agora que eu tenho certeza que você não é aquele, eu me descubro cagando um monte pra tudo isso.
Porque você não é perfeito, mas o homem idealizado não tem a sua cara de sono e nem o seu olho que eu amo tanto.
O mala do cara dos meus sonhos não tem o desenho da sua boca: com mais tinta do que contorno e com um maldito cravinho no lado direito do lábio superior.
O homem perfeito é um puta de um chato com seus CDs cults. E você com as músicas do Metállica.
Você é divertido, e a gente briga e depois faz as pazes do nosso jeito. E nós transamos do nosso jeito.
Porque o homem perfeito é cheio de estripulias sexuais, mas eu detesto estripulias e adoro o nosso jeito intenso de se amar cheio de inconformismos com a intensidade.
Eu sonhei com esse cara, que me levaria a restaurantes caros e olharia para mim a noite toda achando que maior diversão no mundo não poderia haver.
Mas você com essa mania de encher a casa de amigos e bagunça, me faz te odiar tanto e querer tanto a sua atenção. E me faz querer tanto você daqui a pouco, porque você não enjoa. Você me cansa demais, mas não enjoa. E quando você me cansa eu enfio minha cabeça no seu peito, e peço para que eu nunca desista de te odiar tanto assim, porque não pode existir ódio mais cheio de borboletas, notas musicais e passarinhos azuis.
Eu quero sim te matar porque você tem uma mania surda de responder todas as minhas perguntas com um "que?" enjoado, e eu quero te socar porque você já descobriu tudo o que me irrita e gosta de me ver assim. Mas quando qualquer outra coisa no mundo me irrita, eu lembro que eu tenho você pra me fazer sentir essa raiva nossa de sitcom inteligente.
Nós não somos um casal melado, mas a gente se curte do nosso jeito, e ninguem duvida do nosso amor.
E o homem perfeito teria a maior paciência do mundo em me curar dessa loucura, e você tema maior paciência do mundo em aumentar a minha loucura. Mas eu gosto da minha loucura.
O homem perfeito não é um boa vida não, mas certamente eu o trairia com você.
E sua cara de sonso despretensioso para a vida, a sua irritabilidade e o meu jeito de "não é comigo" combina muito bem com o seu jeito que acredita que tudo é com você.
A nossa dança num baile de máscaras é eterna, porque quando eu peso a mão, você me faz voar. E quando você perde o chão, eu te dou um soco na cabeça pra ver se achato a sua alegria pra caber na minha.
E você cabe de sobra na minha intensidade, e o que acaba com a minha neurose fria é o quentinho da sua cama.
E o homem perfeito tem um beijo profundo e ritmado, que de tão melado é encaixável e me deixa saciada de um jeito que encerra o meu desejo. E você tem um jeito intenso e brincalhão de me beijar. E eu nunca me dou por satisfeita, o que me causa uma ansiedade de paixão inicial que não deixa o peito relaxar.
E o homem das minha ilusões me deixaria relaxar numa enorme cama amorosa, e acordaria inúmeras vezes pra me ver dormir abraçada a toda a certeza que ele me daria com apenas um segundo de olhar.
É cansativo viver sem vírgulas porque eu respiro a sua existência 24 horas por dia, e só coloco vírgulas teatrais para você não enjoar de mim.
Te amar não é fácil, é quase o anti-amor. É muito quase como se você nem existisse, porque só o homem perfeito merecia tanto sentimento. E eu te anulo o tempo inteiro dizendo para mim, repetindo para mim, o quanto você falha, o quanto você fraqueja, o quanto você se engana. E fazendo isso, eu só consigo te amar mais ainda. Porque você enterrou o meu sonho aprisionado pela perfeição e me libertou para vivê-lo.
E a gente vai por ai, se completando assim meio torto mesmo. E Deus escrevendo certo pelas nossas linhas que se não fossem tão tortas, não teriam se cruzado.