sábado, 25 de dezembro de 2010

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

"Te desejo uma fé enorme, em qualquer coisa, não importa o quê, como aquela fé que a gente teve um dia, me deseja também uma coisa bem bonita, uma coisa qualquer maravilhosa, que me faça acreditar em tudo de novo, que nos faça acreditar em tudo outra vez."

domingo, 5 de dezembro de 2010

Faz de conta

Faz de conta: você acordou, ligou para o salão e marcou um horário. Na hora do almoço, foi lá e pediu: Corta bem curto. O cabeleireiro não acreditou no que ouvia. Afinal, seus quase cinquenta centímetros de cabelo sempre foram, na sua cabeça (literalmente), uma espécie de atestado da sua feminilidade. Mas agora eles teriam de ser curtos. Para que suas ideias ficassem longas. Ele colocou a mão um pouco abaixo do seu ombro: Mais ou menos aqui? Você segurou a mão dele, levou-a na altura da sua orelha, e disse: Tosa. Depois você passou naquela loja onde tem uns vestidos moderninhos e coloridos. Você entrou e pediu aquele cor de laranja com borboletas, muito mais curto do que os que você costuma usar. Aproveitou e pediu a sapatilha da vitrine. Arrancou o seu terninho bege, sua camisa branca e seu escarpim marrom. Deixou tudo por lá mesmo, no provador. E quando a vendedora perguntou o que fazer com aquilo, você disse: Queima.Quando você retornou ao trabalho, uma hora depois do horário de costume, com aquele vestidinho e com os cabelos daquele jeito, a roda em torno de você foi se formando. Uns, animadíssimos. Outros, nem tanto. Alguns reprovaram. Como as coisas já não andavam muito bem por ali, sua chefe lhe chamou no final do dia para conversar, e avisou que as coisas não poderiam continuar daquele jeito, ou ela teria que substituir você. E você disse: Substitui.Saindo de lá deu vontade de jantar naquele bistrô aonde você acha que só deveria ir no dia do seu aniversário ou outra data importante. Você mal encostou seu carro e já veio o dono da rua, dizendo que eram dez pratas para parar ali. E, como você não deu bola, o homem começou aquela conversinha surrada dizendo, na entrelinha da entrelinha, que um eventual não-pagamento antecipado incorreria em riscos indesejáveis na pintura do seu bólido. Você pegou o celular, digitou três números, mostrou o visor para o homem e, já com o dedo na tecla “ligar”, disse: Risca. Faz de conta que você chegou em casa e sua filha de dezessete anos estava na sala com o namorado. Você teve que contar de novo a história daquele vestido e daquele cabelo e, como chovia, sua filha sondou se o rapaz poderia dormir ali. E, enquanto jogava no lixo aquela agendinha que você só usava no trabalho, você disse: Pode. Quando se deitou para dormir, aquele anjo que costuma vir conversar com você antes do sono se empoleirou na cabeceira da sua cama. Elogiou o cabelo, o vestido, a decisão no trabalho, o presente de não-aniversário, o chega-pra-lá no dono da rua, a atitude com a filha. Só por curiosidade, perguntou que bicho havia mordido você. E você, se ajeitando no travesseiro e já desligando o abajur, disse: Nenhum.No dia seguinte, vendo que eram dez da manhã e você ainda não havia se levantado, sua filha entrou no quarto, vocês conversaram e no final ela perguntou como é que vocês viveriam dali para frente. Com certa ironia, ela arriscou dizer que com as bolsas e os badulaques que você produzia e vendia nos finais de semana é que não seria. E você disse: Sim. À tarde, você procurou o dono daquele galpão que você havia visto para alugar, perfeito para uma oficina, e fez uma oferta. O homem coçou a cabeça, pediu um pouquinho mais, e você disse: Fechado. À noitinha, você foi até a casa dos seus avós, assim, de surpresa. E, de surpresa, você os beijou. E quando eles perguntaram o que era aquilo, você disse: Amor.
Faz de conta que foi assim. Faz de conta que foi desse jeito que você virou a mesa. Que resolveu não perder mais tempo, fazer o que gosta e ser do jeito que você, só você, acha que fica mais bonita. Faz de conta que você morreu. E que alguém lhe deu a oportunidade de voltar para um terceiro tempo. Então. Agora vai lá e faz tudo de verdade.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Na sua Estante - Pitty

Te vejo errando e isso não é pecado,
Exceto quando faz outra pessoa sangrar
Te vejo sonhando e isso dá medo
Perdido num mundo que não dá pra entrar
Você está saindo da minha vida
E parece que vai demorar
Se não souber voltar, ao menos mande notícias
'Cê acha que eu sou louca
Mas tudo vai se encaixar

Tô aproveitando cada segundo
Antes que isso aqui vire uma tragédia

E não adianta nem me procurar
Em outros timbres, outros risos
Eu estava aqui o tempo todo
Só você não viu

E não adianta nem me procurar
Em outros timbres, outros risos
Eu estava aqui o tempo todo
Só você não viu

Você tá sempre indo e vindo, tudo bem
Dessa vez eu já vesti minha armadura
E mesmo que nada funcione
Eu estarei de pé, de queixo erguido
Depois você me vê vermelha e acha graça
Mas eu não ficaria bem na sua estante

Tô aproveitando cada segundo
Antes que isso aqui vire uma tragédia

E não adianta nem me procurar
Em outros timbres, outros risos
Eu estava aqui o tempo todo
Só você não viu

E não adianta nem me procurar
Em outros timbres, outros risos
Eu estava aqui o tempo todo
Só você não viu

Só por hoje não quero mais te ver
Só por hoje não vou tomar a minha dose de você
Cansei de chorar feridas que não se fecham, não se
curam
E essa abstinência uma hora vai passar...

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

"Mal-me-quer, pensou com tristeza, vendo a última pétala. Depois lembrou que não tinha pensado em ninguém, e ficou ALEGRE outra vez."


" Aprendi a amar menos, o que foi uma pena, e aprendi a ser mais cínica com a vida, o que também foi uma pena, mas necessário.
Viver pra sempre tão boba e perdida teria sido fatal."

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Fome !

Vai dizer que não adora essa vida. Ninguém no coração e eu aguento até três pedaços de pizza às duas da manhã. Como até a de chocolate com banana. É você também, não dá pra negar. Um pouco descompensada, mas é. Até tentei mas foi só olhar o cara dando som meio que trepando com o som. E tudo começou de novo. Agora é toda semana, toda hora. É isso mesmo? É. E quando acaba. Quando acabar a graça. Façamos um trato então, mocinha, a hora que acabar a graça, será simples como isso mesmo. Uma graça que acaba. Não pode ter nojo, não pode ter ressaca, vontade de morrer, medo de canais podres irrigando infertilidades absurdas pelas entranhas. Medo desse deus do amor dizendo que só mocinhas pra dentro podem ser amadas. O cruel deus do amor que fala de amor como um merecimento pra quem aguenta não sucumbir pelos buracos sendo que já nascemos furados. O deus falso como um sacerdote em busca de casas pra almoçar de graça e ouvidos pra fazer necessidades fisiológicas. Protetor de doenças e padroeiro de festas de gente que ri corada e faz listas de casamento. Diabo, entenda, estou pra fora num grau absurdo, vomitando minha virilidade, entende? Eu sou uma enorme almofada esfaqueada inundando o mundo com minhas espumas fáceis. Combinado? Porque, veja bem. Não é isso que me tira do rumo do amor, do caminho do amor. É só porque amor demora mesmo, pra acontecer de novo. Mas são tantas coisas lindas pelo caminho, não são? O mocinho trepando com o som é provavelmente o milésimo dos últimos mil anos que estão sendo esses dias. Ele não diz absolutamente nada do que eu quero ouvir, tem os olhos descolados de seu fundo, tem aquele riso de quem se lixa para as outras coisas todas que voam entre a nossa vontade de se devorar. Ainda assim, nesse segundo, nesse segundo que antecede meu pulo na jugular, a força da minha mão que espreme intenções até que só sobre o dia seguinte. São tantos charmes e ombros e cheiros e jeitos de fazer tudo. E estou feliz assim, sim, às vezes as olheiras me avisam que daqui a pouco vem alguém da auditoria, o homem de voz grossa que mora dentro da minha vozinha e que me avisa, de tempos em tempos, que é preciso parar de gastar alma por aí. Porque, mesmo que me pareça não ser muito uma coisa da alma, não se faz nada disso sem amar do avesso. O que dá sempre tudo na mesma e infinita merda que é: viver cansa mas depois que a gente caga dá fome de novo.
É só isso, me perdoa, daqui a pouco passa, mas é tão lindo ter fome de novo. Pensar em massas e pau de massa. Eu esfolando, alisando, esticando a fome. Fazendo nhoque de desejo. E passando o resto do pão no resto do molho. Quase comendo os cacos do prato como aperitivo. É assim que gosto também, também sou eu. Eu e minha sombra preta nova. Que deixa meus olhos como de uma águia faminta. Dando rasante sempre que aperta meu estômago, que a essas alturas, já mora no meu peito. Daqui a pouco o coração estraga tudo, troca de lugar com o cu, e eu vou novamente ter o apetite anoréxico de quem não suporta a vida. Eu vou novamente sentir a vertigem de estar tão viva que não cabe engolir terra pra parar em pé. Estar abaixo do amor é como ter a proteção da terra. Amar, que deveria aproximar de Deus, jamais dá essa sensação boa de ter um pai que cuida de tudo. Mas agora, agora, vivo do tamanho de quem se enche sem medo de acabar. De quem sente o gosto mesmo empanturrada. E descobre espacinhos dentro de si pra mais um pouco. De quem chupa anti-ácido mas não deixa de pedir cassoulet com rins de vitela macha. Minha imagem é de uma criança de bochecha gorda batendo com os talheres. Venham! Venham! Venham!


Tati Bernardi